sexta-feira, 9 de novembro de 2007

COMO O MAL GERA O MAL

Um eremita caminhava por um lugar deserto quando chegou a uma gruta enorme cuja entrada não era facilmente visível. Decidiu descansar e entrou. Logo notou o brilhante reflexo da luz sobre um monte de ouro. Assim que se deu conta do que tinha visto, o eremita começou a correr, fugindo o mais depressa que pôde. Acontece que havia três ladrões que passavam muito tempo naquele ponto do deserto com a intenção de roubar viajantes. Logo o homem piedoso passou por eles. Os ladrões se surpreenderam, alarmaram-se até, vendo o homem correndo sem que ninguém o perseguisse. Saíram de seu esconderijo e detiveram-no, perguntando-lhe o que estava acontecendo. - Estou fugindo do diabo, irmãos - disse. - Ele está me perseguindo. Os bandidos não conseguiram ver ninguém perseguindo o devoto. - Mostra-nos quem está atrás de ti - disseram. - Eu o farei - falou o eremita, com medo deles. Levou-os em direção à gruta, rogando-lhes que não se aproximassem dela. A essa altura, naturalmente, os ladrões estavam muito curiosos com a advertência e insistiram em ver o motivo de tanto alarme. - Aqui está a morte que me perseguia - disse o ermitão. Os malfeitores, é claro, ficaram encantados. Evidentemente consideraram o eremita meio louco e o deixaram ir, enquanto se felicitavam por sua boa sorte. Em seguida começaram a discutir sobre o que deveriam fazer com sua presa, pois tinham receio de deixar o tesouro novamente só. Decidiram por fim que um deles apanharia um pouco do ouro, iria à cidade, onde trocaria por comida e outras coisas necessárias, e depois procederiam à divisão. Um dos ladrões se apresentou voluntariamente para realizar a missão. Pensou consigo mesmo: "Quando chegar à cidade poderei comer tudo o que quiser. Depois envenenarei o resto da comida. Assim os outros dois morrerão, e o tesouro será só meu ". Na sua ausência, porém, os outros dois também tinham estado pensando. Tinham decidido que, mal o espertalhão regressasse, o matariam. Depois comeriam sua comida e dividiriam o tesouro em duas partes, em vez de três. No momento em que o pilantra chegou à gruta com as provisões, os outros dois caíram sobre ele e, a punhaladas, o mataram. A seguir comeram toda a comida, e morreram por causa do veneno que seu companheiro havia posto nela. Dessa maneira, como o eremita predissera, o ouro realmente tinha significado a morte para os que tinham deixado se influenciar por ele, e o tesouro permaneceu onde estava, na gruta, por muito tempo.

Do livro 'Histórias da Tradição Sufi' - Edições Dervish 1993

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